quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Per Sempre

When you're gone the pieces of my heart are missing you
When you're gone the face I came to know is missing too
When you're gone the words I need to hear
to always get me through the day
And make it ok
I miss you

I've never felt this way before
Everything that I do, reminds me of you
And the clothes you left, they lie on the floor
And they smell just like you, I love the things that you do

(...)
We were made for each other
out here forever
I know we were

Yeah yeah

All I ever wanted was for you to know
Everything I do I give my heart and soul
I can hardly breathe I need to feel you here with me

(When You're Gone - Avril Lavigne)


O mar se estendia escuro a minha frente. Sua superfície refletia as poucas estrelas que estavam no céu como um espelho tremulo. Meu cabelo serpenteava ao sabor do vento que soprava em direção ao continente. Pequenas marolas quebravam na praia com suavidade, acariciando a areia branca como uma mãe ao seu filho.

A cena era tranquila, mas dentro de mim uma dolorosa batalha era travada. Meu corpo estava entorpecido, a única coisa que eu sentia era a tristeza se espalhando pelas minhas veias como um veneno. As lágrimas formavam caminhos em minha face, meu vestido já não tinha mais a barra branca, mas sim marrom da terra que havia grudado nela. Qualquer um que passasse por ali naquele momento saberia a confusão que dominava minha essência.

As Lembranças pulavam vividas em minha mente, me ofuscando e transportando para o passado. Em segundos a noite tinha sido substituida pelo dia ensolarado em que vi Bruno sair pela porta de casa, mochila no ombro, farda nova recém passada, cabeça erguida e passos firmes. O caminhão do exército o esperava do lado de fora do portão com o motor ligado, sinal de que não demoraria muito para partir.

Fiquei encostada no portal de casa. Minhas mãos se mexiam sem parar dando nós nos dedos, dentando conter a enchorrada de sentimentos que estavam prestes a me inundar. Em um momento, num singelo segundo, Bruno olhou sobre o ombro, seus olhos cor de âmbar refletindo os raios de sol que havia escapado por entre as poucas nuvens que caminhavam lentamente no céu, deixando-os mais brilhantes que o normal. Um sorriso triste apareceu em seu rosto enquanto ele batia continência para mim.

Aquele gesto fez com que a minha máscara de tranquilidade desmoronasse. Meus músculos já não obedeciam aos comandos do meu cérebro, que batalhava para tomar o controle novamente. Mas daquela luta meus instintos saíram vitoriosos, impulsionando meu corpo para frente. Corri pelo jardim, meus pés amassando a grama verde sem prestar atenção, apenas querendo diminuir a distância entre nós. Envolvi o pescoço de Bruno com meus braços e afundei meu rosto em seu ombro, inspirando o perfume amadeirado que já estava entranhado em sua pele, nos lençóis da cama, em minha vida.

- Por favor, volte para mim - Solucei para ele, minha garganta ardendo com o esforço necessário para expulsar as palavras - Me prometa que vai voltar!

- Eu juro, Mel - Ele me abraçou apertado, seus lábios encostados em meus cabelos, um hábito adquirido com o passar do tempo - Juro pelo que sinto por você que voltarei de algum jeito.

- Eu te amo - Consegui falar, grundado meus olhos em seus rosto, guardando na memória seus traços uma última vez.

- Para sempre - Bruno completou, tocando seus lábios delicadamente nos meus.

Um último beijo. Carregado de sentimentos, de frases que não foram ditas, de mensagens subentendidas, de esperança. Um beijo com gosto diferente. Gosto amargo que grudou na garganta e que, com o passar dos dias, formaria um nó apertado de saudade. Seus lábios eram quentes contra os meus, que pareciam cubos de gelo devido ao desespero que me consumia. Apertei meus braços ainda mais ao redor do seu pescoço tentando a todo custo prolongar aquele último momento.

Por fim Bruno me colocou novamente no chão, acariciando meus braços antes de soltá-los cuidadosamente do seu pescoço. Eles cederam sem dificuldade sob seu toque, mesmo que eu estivesse usando todas as forças que me restavam. Ele juntou minhas mãos sobre seu peito, cobrindo a corrente com seu nome que pendia sobre a farda. Meus dedos alisaram as duas plaquinhas de aço, e logo em seguida a aliança de ouro branco que havia-nos unido anos antes. Seus olhos encaravam minhas mãos com intensidade, vendo meus dedos passarem seguidas vezes pela frase gravada no interior da aliança: per sempre.

O motorista buzinou impaciente, como se não entendesse a complexidade daquele momento. Bruno finalmente soltou minhas mãos, virando de costas e correndo até o caminhão. Minhas pernas falharam quando meu peso se apoiou inteiramente nelas, me deixando de joelhos em meio as flores do jardim. Bruno se afastava rapidamente a bordo do caminhão, seus olhos fixos nos meus até que eles sumiram na estrada.

Fechei os olhos tentando imaginar que tudo aquilo não passava de um terrível pesadelo, e que ao abri-los Bruno estaria ao meu lado. Mas não foi o calor dos braços dele, e sim o vento frio que envolveu meu corpo, me trazendo de volta para o presente, para a noite escura e impenetrável que se estendia a minha volta. Senti a nova remessa de lágrimas que escorregava pelas minhas bochechas, respingando no envelope que minhas mãos estavam segurando com firmeza. Ele fora entrega a mim minutos antes por um par de soldados fardados, ambos com expressões solenes. Aquele pedaço de papel pardo era a minha última esperança, a última âncora que me ligava a sanidade.

Meus dedos abriram trêmulos o lacre de cera verde-escuro, derrubando todo o conteúdo do envelope em meu colo. Meu coração se apertava com medo da confirmação do que ele já sabia. Desdobrei a folha de papel que estava junto com outros itens e reconheci imediatamente a letra que estava escrita nela. Segurei frouxa entre os dedos a corrente dele, passando a superfície do anel pela palma da mão enquanto lia com avidez, mesmo com a pouca luminosidade que chegava até mim da varanda de casa.

Melissa,

Se você esta lendo essa carta é porque eu não poderei cumprir minha promessa de forma plena.

No dia da minha partida jurei que voltaria de qualquer forma para você; e por meio dessa carta tento cumprir meu juramento. Gostaria de lhe falar algumas coisas que nunca consegui dizer pessoalmente, ou não tive coragem de fazê-lo.

Lembra do dia que nós nos vimos pela primeira vez? Aquele dia que eu me esbarrei em você naquele parque de diversões, derrubando sua bebida na minha blusa? Bom, confesso que aquele esbarrão não foi puro acaso do destino. Naquele mesmo dia de manhã, quando eu te vi andando distraída pela beira da praia, os cabelos refletindo o sol que ainda começava a aquecer no céu, soube que meu coração não pertencia mais a mim. Ele era propriedade do anjo que passou caminhando pela minha frente.

Também preciso pedir desculpas pelas brigas que tivemos. Se eu tivesse a menor ideia do quão curto nosso tempo juntos seria, afinal de contas cinco anos não são nada comparados ao tempo que eu sonhei passar ao seu lado, nossas discussões não teriam acontecido na maioria das vezes. Em nenhum momento eu quis magoar seus sentimentos ou me distanciar de você. Pra falar a verdade eu não conseguia imaginar minha vida sem você ao meu lado, nem que fosse por um segundo.

Eu quero também... Não, melhor, eu preciso te pedir desculpas por outras coisas.

Preciso que você me perdoe por não ter sido o melhor marido do mundo; por não ter podido te dar tudo que sempre sonhou; por ter sido ausente em alguns momentos importantes, ou indelicado nas piores ocasiões; preciso que você me perdoe por ser imperfeito. E, principalmente, preciso que você me perdoe por estar te fazendo sofrer nesse momento.

Espero que você saiba o quanto eu te amei e o quanto ainda te amo. E que entenda que esse amor nunca vai me deixar, ou esmorecer. Nem mesmo a morte conseguirá arrancá-lo de mim; ele faz parte da minha essência. Você é um pedaço indispensável de mim.

Tenho pouco tempo para acabar essa carta, então te faço apenas um pedido: viva.

Viva por nós dois. Viaje para os lugares que sempre quis conhecer, continue cantando no chuveiro, dance com as suas amigas, se apaixone novamente. Siga em frente. No começo pode ser difícil, mas com aos poucos as lembranças do que passamos juntos não vão ser mais dolorosas e você poderá conviver com elas e até mesmo contar os momentos mais engraçados para alguém sem derramar lágrimas de saudade; apenas com uma lembrança acolhedora dos instantes que vivemos.

Lembre com carinho de cada um desses momentos que passamos juntos e nunca se culpe por eles não serem tantos quantos você queria. Eu mais do que qualquer um queria que o tempo junto contigo fosse "per sempre".
Mel, minha menina.
Nunca se esqueça que a nossa história de amor é digna de ser eternizada nos livros.

Até logo.
Espero-te no infinito; ou para sei lá aonde as pessoas vão depois dessa vida.

Do eternamente seu

Bruno.


As lágrimas voltaram a embaçar minha visão; meu corpo era sacudido por violentos soluços de desespero. Eu nunca mais sentiria seus braços a minha volta; nunca mais seria acordada aos domingos pelos beijos dele; nunca mais sentaria na areia recostada em seu peito para ver o pôr-do-sol. A dor era excruciante ao ponto de eu não consegui me manter sentada, caindo de costas na areia macia.

Encarei o céu escuro que se estendia sobre mim, vendo em cada estrela que o pontilhava o brilho dos olhos dele. Minha mão se apertou involuntariamente ao redor da corrente de aço. Como Bruno podia ter imaginado que algum dia eu me esqueceria dele? Que eu conseguiria me apaixonar novamente?

Gritos cortavam a noite cheios de desespero; então percebi que eles saiam dos meus lábios; que eram eles que faziam meu corpo vibrar sob o vestido branco. Eles avançavam até o infinito do espaço, levados pelo vento; carregando meu sofrimento e angústia a todos que quisessem ouvir.

Abracei meu corpo apertado, fechando os olhos e tentando me imaginar novamente em seus braços. Tentando eternizar aquela lembrança na minha mente. Porque o que eu sentia nunca iria passar. Tudo relacionado ao Bruno em minha vida podia ser resumido na frase gravada tanto no anel que eu segurava em minha mão quanto na minha mente:

Per Sempre.

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