sexta-feira, 27 de março de 2009

Reciprocidade

Eu a admirava andando pelo meio das flores.
A menina que antes corria junto a mim entre as mesmas flores tinha crescido e virado a linda mulher que andava entre as flores na minha frente, o vestido leve balançando a sua volta ao sabor do vento, assim como seus longos cabelos castanhos. Sentado junto a uma árvore, que provavelmente tinha centenas de anos de existência e muitas histórias que aconteceram embaixo dos seus galhos para contar, pensava em como eu era sortudo. Durante toda minha vida anseie por um amor verdadeiro, que fizesse do sangue em minhas veias virar fumaça e que me prendesse pelo resto da vida. Sonhei com amores impossíveis, sem perceber que a mulher da minha vida estava ao meu alcance.
Ela colhia algumas flores e as guardava na dobra do vestido, o aroma da primavera dominava o ar e me impregnava a alma, deixando com um sorriso bobo no meu rosto. Os seus olhos refletindo o sol da tarde eram hipnóticos, as pequenas manchas verdes se ressaltavam sobre o castanho claro, deixando ainda mais vivido o seu olhar. Seus lábios vermelhos se esticaram em um doce sorriso, que conseguiria derreter o mais duro dos corações, quando nossos olhares se cruzaram.
- No que você esta pensando? – ela perguntou, sentado ao meu lado e derrubando as flores junto a nós.
- Em como a vida sorriu para mim tantas vezes – escolhi umas das várias flores e segurei-a entre os dedos. – primeiro ela colocou você na minha vida como a melhor amiga que alguém gostaria de ter – prendi a flor no espaço entrar da sua orelha, o contraste do vermelho vivo com seus cabelos cor de chocolate era espetacular aos meus olhos. – depois, como o maior amor que eu espero sentir na vida.
- Você me tem em alto preço – ela me olho envergonhada, seus dedos alisavam uma pequena flor amarela.
- Em alto preço eu tenho meus amigos – puxei-a pelo braço, encostando sua cabeça em meu ombro e passando um braço pela sua cintura – você para mim é algo inestimável, minha pedra preciosa encontrada ao acaso.
- Te amo – ela disse depois de um tempo.
- Só posso dizer que o sentimento é mais do que recíproco.
- O que você teria feito se não tivesse ido atrás de mim? – Seus olhos me encaravam com uma intensidade assustadora.
- Se eu não tivesse corrido atrás de você, roubado o microfone no aeroporto e gritado com toda a minha força seu nome, esperando que você viesse falar comigo? Com certeza teria me lamentado eternamente por ter perdido o amor da minha vida.
- Eu já disse que te amo? – ela soltou uma gostosa risada, alisando meu cabelo.
- Eu já disse que é recíproco?
Selei seus lábios com um beijo doce, e ficamos lá, os dois juntos, cercados pelas flores, vendo o por do sol, mas um de vários que viriam pela frente.

terça-feira, 24 de março de 2009

1964
O céu escuro era iluminado pelos raios enquanto o barco era jogado de um lado para o outro pelas violentas ondas. O som dos trovões fez Philip estremecer, ele tentava a todo custo manter o controle da embarcação, mas o vento que soprava cada vez mais forte fazia com que a vela principal se debatesse no alto do mastro.
Ele praguejava tanto e tão rápido que, para outra pessoa que estivesse ouvindo-o naquele momento, parecia que ele falava outra língua. A culpa o deixava angustiado, por conta de um pequeno erro nos cálculos feitos antes da viagem Philip havia posto as duas coisas que ele mais amava no meio da pior tempestade dos últimos 50 anos.
Philip entrou na cabine e encontrou sua esposa encolhida nem canto, abraçando com força a sua menininha que, mesmo no meio daquele barulho todo, se limitava a chorar baixinho.
- Philip – A doce voz de Luiza estava carregada de medo – o que vai ser de nós agora?
- Nós só podemos esperar a tempestade passar.
- Mas o que- A pergunta da mulher foi cortada por um forte estrondo vindo do convés, o barco se inclinou para a direita, fazendo todos os abjetos espalhados pelo chão rolarem naquela direção. Philip se levantou de onde havia se sentado e voltou para o meio da tempestade com o intuito de ver o estrago no convés, deixando a mulher e a filha sozinhas novamente.
Luiza tirou a coberta que cobria o rosto da pequena menina e contemplou seus magníficos e misteriosos olhos azuis como o mar, que brilhavam devido às lágrimas. A mulher acariciou a cabeça dela, passando os dedos pelos cabelos quase brancos de tão loiros da menina enquanto cantarolava uma doce canção que lhe foi ensinada pela mãe.

- Que Gaia tome conta de você, meu anjo – Ela lhe sussurrou ao pé do ouvido quando acabou o último verso da canção. O sinal de nascença que Luiza carregava em um dos pulsos, que tinha a curiosa forma de uma palavra, como que uma tatuagem gravada antes dela nascer, sempre foi motivo de curiosidade de todos à sua volta. Ele brilhava levemente num tom de azul que se aproximada da cor dos olhos da filha, portadora de um sinal idêntico no pulso esquerdo.
- Luiza! – Philip a chamou do convés – você tem que sair daí de baixo agora!
Ela enrolou a menina novamente em seu cobertor e a apertou contra antes de subir com dificuldade as escadas. A chuva lhe açoitou o rosto, encharcando o cabelo e as roupas rapidamente. Os pingos eram tão gelados que pareciam pequenas adagas que lhe perfuravam a pele.
- Você não devia ter trazido ela pra cá! – Ele gritou ao ver sua mulher lutando contra o vento com a filha escondida entre os braços – Ela vai acabar ficando doente ou se machucando!
- Você é louco de achar que eu ia deixar minha filha sozinha lá embaixo – Ela retrucou. Mal ela completou a frese, um raio atingiu uma das laterais do barco, lançando Philip em direção a água revolta.
- Philip! – Luiza gritou, indo em direção ao lugar de onde seu marido havia caído. Ao se aproximar da lateral o barco se agitou, fazendo-a escorregar na água que se acumulava no chão e cair ao mar.
Luiza foi envolvida pelas águas escuras, seu corpo era embalado pelo balanço das ondas. Philip estava fora do seu campo de visão, o que, por incrível que pareça, deixava-a calma. Ela não se importava com a própria vida, apenas com a dele e a de sua filha. Mesmo estando embaixo d’água, sua pulsação estava calma, e a vontade de respirar não existia, era como se ela tivesse em um lugar qualquer onde pudesse respirar ar puro. O peso das roupas e da criança em seus braços impedia que ela voltasse a superfície. Em sua cabeça, Luiza repetia a canção que cantara para a sua filha.
Calmamente ela fechou os olhos encostou os lábios na testa da menina, entregando-a a mulher que estava na sua frente quando ela abriu os olhos. A mulher tinha longos cabelos azuis e olhos de um cinza quase branco. Seus braços finos envolveram a menina e, com um movimento das mãos, formou uma bolha de ar ao redor dela, possibilitando sua respiração. Um homem que estava atrás da mulher se adiantou e ficou frente a frente com Luiza, acariciou-lhe o rosto e, com a mão livre, tocou em seu sinal, que brilhou num azul intenso.
- Viva em paz, irmã – Os olhos dele mudaram rapidamente de cor, passando para um verde esmeralda.
- Cuide da minha menina – Ela formou as palavras com os lábios, mas não emitiu nenhum som.
- Com a minha vida – Ele respondeu, empurrando-a para a superfície. Assim que a cabeça de Luiza quebrou o espelho d’água, o tempo pareceu andar na velocidade normal. Ela viu que Philip tinha conseguido voltar para o barco e gritava seu nome desesperado. Para ela aquilo era desnecessário, sua filha estava a salvo nos braços do oceano e aquilo era tudo que importava. Sem nenhuma dificuldade ela nadou até as proximidades do barco, de onde o marido podia vê-la e içá-la, Philip tinha lágrimas nos olhos, que se misturavam com a chuva.
- Achei que tinha te perdido para sempre – Sua voz embargada ao sussurrar no ouvido de Luiza. – Amor, onde esta a nossa menina? - o medo era visível em seu semblante, seus olhos, naturalmente luminosos, estavam apagados.
- Segura nos braços de Gaia, querido – Ela disse antes de desmaiar, para Philip a chuva pareceu cair ainda mais pesada sobre seus ombros, uma mão de ferro apertava seu coração enquanto Luiza desfalecia em seus braços.

Seu coração estava irremediavelmente partido.

Flores

Ela estava sentada num banco qualquer.

Mesmo cercada pelas flores que começavam a desabrochar, lágrimas corriam rapidamente pelo seu rosto; este não era nem bonito nem feio, apenas comum.

Admirava a paisagem do parque à sua frente como se nada no mundo fosse mais importante para ela, a não ser as crianças que brincavam animadas junto a suas famílias.

Outra lágrima riscou sua face.

Suas mãos apertavam com força, sobre o colo, um pedaço de papel, o provável causador da sua tristeza; era como se tentassem mantê-la presa entre as linhas escritas.

Um dos garotinhos que brincava no parque com sua mãe observava toda a cena a distância. Comovido pelas lágrimas daquela garota comum, ele deixou de lado sua diversão e foi correndo até um canteiro cheio de flores que exalavam os perfumes da primavera. Escolheu entre elas a mais bonita aos seus olhos infantis e se aproximou calmamente da garota que continuava a olhar distraída para o parque. Seus olhos castanhos tão comuns quanto seu rosto estavam nublados, como se o peso de anos de tristeza que vinham se acumulando tivessem caído como uma neblina sobre eles.

O garotinho sentou-se no banco ao lado da garota, que devia ser muitos anos mais velha que ele, e encarou-a quieto por alguns instantes antes de segurar-lhe a mão. A garota se assustou com o toque daquela pequena mão quente sobre a sua, que estava gelada como seu coração. O contraste entre seus olhos castanhos e tristes e dos verdes e alegres do menino era notável a quem assistia a cena. Ele colocou a flor delicadamente na palma da mão da garota antes de fechar os dedos dela ao redor do caule. Ela fitou a pequena flor do campo que agora estava presa entre seus dedos por algum tempo antes de voltar a olhar para o menino e perguntar:

- Por que você me deu essa flor?

- Ninguém deve ficar tão triste como você está, ainda mais em dias tão bonitos – disse o garoto simplesmente, antes de se levantar e correr novamente para os braços da mãe, que tinha um pequeno sorriso no rosto.

Se todos que estivessem tristes encontrassem no seu caminho alguém que lhe entendesse a mão, ou uma pequena flor do campo, muitas lágrimas seriam guardadas, pensou a garota. Enxugou uma última lágrima que havia escapado e prendeu a pequena flor entre os cabelos. O pedaço de papel que lhe tinha trazido tanto sofrimento jazia esquecido no chão, embaixo do banco onde havia caído quando o menino pegou sua mão.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Escrever

Escrever é um Hobbie. É uma forma que descobri para me distrair, para me distanciar das preocupações do dia a dia. Escrevo simplesmente pelo prazer de sentir as teclas voando sob meus dedos e um texto legal, que consegue fazer as pessoas se sentirem bem ao ler, aparecer na tela. Nunca pensei em ter isso como profissão. Não acho que escrevo bem o suficiente para isso. Satisfaço-me em saber que minhas palavras um dia trarão alegria ao coração de quem lê-las.

Escrevo, porque sei que só assim consigo externalizar meus sentimentos mais profundos, aqueles que nem mesmo sabia que existiam. Mostrar aos outros como me sinto com uma determinada situação, ou como encaro a vida de um ângulo diferente.

Escrevo, porque as idéias pulam na minha mente a cada cena que vejo, cada livro que leio, cada filme que assisto. Escrevo para aliviar a tensão do colégio, ou daquele amor não correspondido.

Escrevo, porque sei que um conto com “E eles viveram felizes para sempre” no fim, mesmo parecendo bobo aos olhos de muitos, faz com que você volte ao mundo real com as energias renovadas, pois ninguém consegue encarar esse mundo cheio de violência em que nós vivemos sem um pouco de faz de conta.Afinal, qual seria a graça de viver se não pudéssemos sonhar com o príncipe encantado montado no cavalo branco?(ou em uma Harley prateada, tanto faz).

Escrevo, porque escrever é o que me dá esperança. Esperança de que um dia as coisas vão mudar, e o mundo vai voltar a ser um lugar em que todos poderão viver em paz, e escrever histórias sobre fadas e príncipes encantados com a certeza que aquilo pode se tornar realidade, basta acreditar.

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