terça-feira, 24 de março de 2009

1964
O céu escuro era iluminado pelos raios enquanto o barco era jogado de um lado para o outro pelas violentas ondas. O som dos trovões fez Philip estremecer, ele tentava a todo custo manter o controle da embarcação, mas o vento que soprava cada vez mais forte fazia com que a vela principal se debatesse no alto do mastro.
Ele praguejava tanto e tão rápido que, para outra pessoa que estivesse ouvindo-o naquele momento, parecia que ele falava outra língua. A culpa o deixava angustiado, por conta de um pequeno erro nos cálculos feitos antes da viagem Philip havia posto as duas coisas que ele mais amava no meio da pior tempestade dos últimos 50 anos.
Philip entrou na cabine e encontrou sua esposa encolhida nem canto, abraçando com força a sua menininha que, mesmo no meio daquele barulho todo, se limitava a chorar baixinho.
- Philip – A doce voz de Luiza estava carregada de medo – o que vai ser de nós agora?
- Nós só podemos esperar a tempestade passar.
- Mas o que- A pergunta da mulher foi cortada por um forte estrondo vindo do convés, o barco se inclinou para a direita, fazendo todos os abjetos espalhados pelo chão rolarem naquela direção. Philip se levantou de onde havia se sentado e voltou para o meio da tempestade com o intuito de ver o estrago no convés, deixando a mulher e a filha sozinhas novamente.
Luiza tirou a coberta que cobria o rosto da pequena menina e contemplou seus magníficos e misteriosos olhos azuis como o mar, que brilhavam devido às lágrimas. A mulher acariciou a cabeça dela, passando os dedos pelos cabelos quase brancos de tão loiros da menina enquanto cantarolava uma doce canção que lhe foi ensinada pela mãe.

- Que Gaia tome conta de você, meu anjo – Ela lhe sussurrou ao pé do ouvido quando acabou o último verso da canção. O sinal de nascença que Luiza carregava em um dos pulsos, que tinha a curiosa forma de uma palavra, como que uma tatuagem gravada antes dela nascer, sempre foi motivo de curiosidade de todos à sua volta. Ele brilhava levemente num tom de azul que se aproximada da cor dos olhos da filha, portadora de um sinal idêntico no pulso esquerdo.
- Luiza! – Philip a chamou do convés – você tem que sair daí de baixo agora!
Ela enrolou a menina novamente em seu cobertor e a apertou contra antes de subir com dificuldade as escadas. A chuva lhe açoitou o rosto, encharcando o cabelo e as roupas rapidamente. Os pingos eram tão gelados que pareciam pequenas adagas que lhe perfuravam a pele.
- Você não devia ter trazido ela pra cá! – Ele gritou ao ver sua mulher lutando contra o vento com a filha escondida entre os braços – Ela vai acabar ficando doente ou se machucando!
- Você é louco de achar que eu ia deixar minha filha sozinha lá embaixo – Ela retrucou. Mal ela completou a frese, um raio atingiu uma das laterais do barco, lançando Philip em direção a água revolta.
- Philip! – Luiza gritou, indo em direção ao lugar de onde seu marido havia caído. Ao se aproximar da lateral o barco se agitou, fazendo-a escorregar na água que se acumulava no chão e cair ao mar.
Luiza foi envolvida pelas águas escuras, seu corpo era embalado pelo balanço das ondas. Philip estava fora do seu campo de visão, o que, por incrível que pareça, deixava-a calma. Ela não se importava com a própria vida, apenas com a dele e a de sua filha. Mesmo estando embaixo d’água, sua pulsação estava calma, e a vontade de respirar não existia, era como se ela tivesse em um lugar qualquer onde pudesse respirar ar puro. O peso das roupas e da criança em seus braços impedia que ela voltasse a superfície. Em sua cabeça, Luiza repetia a canção que cantara para a sua filha.
Calmamente ela fechou os olhos encostou os lábios na testa da menina, entregando-a a mulher que estava na sua frente quando ela abriu os olhos. A mulher tinha longos cabelos azuis e olhos de um cinza quase branco. Seus braços finos envolveram a menina e, com um movimento das mãos, formou uma bolha de ar ao redor dela, possibilitando sua respiração. Um homem que estava atrás da mulher se adiantou e ficou frente a frente com Luiza, acariciou-lhe o rosto e, com a mão livre, tocou em seu sinal, que brilhou num azul intenso.
- Viva em paz, irmã – Os olhos dele mudaram rapidamente de cor, passando para um verde esmeralda.
- Cuide da minha menina – Ela formou as palavras com os lábios, mas não emitiu nenhum som.
- Com a minha vida – Ele respondeu, empurrando-a para a superfície. Assim que a cabeça de Luiza quebrou o espelho d’água, o tempo pareceu andar na velocidade normal. Ela viu que Philip tinha conseguido voltar para o barco e gritava seu nome desesperado. Para ela aquilo era desnecessário, sua filha estava a salvo nos braços do oceano e aquilo era tudo que importava. Sem nenhuma dificuldade ela nadou até as proximidades do barco, de onde o marido podia vê-la e içá-la, Philip tinha lágrimas nos olhos, que se misturavam com a chuva.
- Achei que tinha te perdido para sempre – Sua voz embargada ao sussurrar no ouvido de Luiza. – Amor, onde esta a nossa menina? - o medo era visível em seu semblante, seus olhos, naturalmente luminosos, estavam apagados.
- Segura nos braços de Gaia, querido – Ela disse antes de desmaiar, para Philip a chuva pareceu cair ainda mais pesada sobre seus ombros, uma mão de ferro apertava seu coração enquanto Luiza desfalecia em seus braços.

Seu coração estava irremediavelmente partido.

2 Comments:

  1. xoxo said...
    meu deus.
    meu deus.
    FIQUEI ARREPIADA.. quase que eu choro!
    Caramba, caramba, caramba!!!!!!!!!!!!
    QUERO LEEEEEER MAAAAAAAAAAAAAIS!
    natvalls said...
    MUITO MUITO MUITO FODA!



    Mas você já sabe disso, ne?

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