terça-feira, 24 de março de 2009

Flores

Ela estava sentada num banco qualquer.

Mesmo cercada pelas flores que começavam a desabrochar, lágrimas corriam rapidamente pelo seu rosto; este não era nem bonito nem feio, apenas comum.

Admirava a paisagem do parque à sua frente como se nada no mundo fosse mais importante para ela, a não ser as crianças que brincavam animadas junto a suas famílias.

Outra lágrima riscou sua face.

Suas mãos apertavam com força, sobre o colo, um pedaço de papel, o provável causador da sua tristeza; era como se tentassem mantê-la presa entre as linhas escritas.

Um dos garotinhos que brincava no parque com sua mãe observava toda a cena a distância. Comovido pelas lágrimas daquela garota comum, ele deixou de lado sua diversão e foi correndo até um canteiro cheio de flores que exalavam os perfumes da primavera. Escolheu entre elas a mais bonita aos seus olhos infantis e se aproximou calmamente da garota que continuava a olhar distraída para o parque. Seus olhos castanhos tão comuns quanto seu rosto estavam nublados, como se o peso de anos de tristeza que vinham se acumulando tivessem caído como uma neblina sobre eles.

O garotinho sentou-se no banco ao lado da garota, que devia ser muitos anos mais velha que ele, e encarou-a quieto por alguns instantes antes de segurar-lhe a mão. A garota se assustou com o toque daquela pequena mão quente sobre a sua, que estava gelada como seu coração. O contraste entre seus olhos castanhos e tristes e dos verdes e alegres do menino era notável a quem assistia a cena. Ele colocou a flor delicadamente na palma da mão da garota antes de fechar os dedos dela ao redor do caule. Ela fitou a pequena flor do campo que agora estava presa entre seus dedos por algum tempo antes de voltar a olhar para o menino e perguntar:

- Por que você me deu essa flor?

- Ninguém deve ficar tão triste como você está, ainda mais em dias tão bonitos – disse o garoto simplesmente, antes de se levantar e correr novamente para os braços da mãe, que tinha um pequeno sorriso no rosto.

Se todos que estivessem tristes encontrassem no seu caminho alguém que lhe entendesse a mão, ou uma pequena flor do campo, muitas lágrimas seriam guardadas, pensou a garota. Enxugou uma última lágrima que havia escapado e prendeu a pequena flor entre os cabelos. O pedaço de papel que lhe tinha trazido tanto sofrimento jazia esquecido no chão, embaixo do banco onde havia caído quando o menino pegou sua mão.

1 Comment:

  1. Leonardo said...
    A mais perfeita história da mima

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